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A sensatez em querer tornar a América grande  ou uma ameaça para a ordem mundial?

A sensatez em querer tornar a América grande ou uma ameaça para a ordem mundial?

Vitória de Donald Trump transformou Barack Obama num dos maiores perdedores políticos dos Estados Unidos, nos últimos 40 anos, e ridicularizou os globalistas de uma Europa meio falhada.

O povo é que vota é uma máxima antiga, tantas vezes esquecida. Donald Trump é o 45º presidente dos Estados Unidos, quer se goste ou não. Foi-o contra tudo e todos. Soçobrou uma campanha milionária da adversária Hillary Clinton, o símbolo do centro esquerda Norte-americano, da continuidade das políticas de Barack Obama instituídas nos últimos oito anos.

Trump venceu a esmagadora maioria dos órgãos de comunicação social e todas as sondagens que lhe mostraram – sempre - o caminho da derrota.

Minimizou os profetas da desgraça. Ridicularizou – e deixará sem palavras - muitos dos líderes políticos de uma União Europeia meio fracassada.

Em 24 horas, transformou Barack Obama num dos maiores perdedores políticos dos últimos 40 anos dos Estados Unidos, pois não hesitou em protagonizar um apoio incondicional a Hillary Clinton, fazendo a sua campanha o que o transformou no primeiro presidente americano a fazê-lo no seu exercício de funções.

Donald Trump venceu o sistema instalado, o centro-esquerda americano, os pais da globalização, um sistema financeiro intransigente e sem escrúpulos, os donos disto quase tudo que não entendem nada do Mundo que os rodeia. Caíram aos pés de um estreante que teve o engenho de colocar o Partido Republicano na liderança do Senado, na câmara baixa e, pois claro na presidência estado-unidense. Donald Trump pode ser populista, pode assustar meio Mundo, mas é dele o mérito da vitória eleitoral de 9 de Novembro de 2016. Se é certo que não teve a maioria dos votos, ganhou em maior número de estados e isso é que conta na Lei Norte-americana. Foi assim com Obama, há 4 anos, seria assim com a senhora Hillary. Não há como contestar a democracia americana. Sempre foi assim... E para ser diferente, terão de alterar a Constituição da República dos Estados Unidos. E será Presidente a partir do próximo mês de Janeiro.

O maior desígnio anunciado pelo novo Presidente americano será aumentar o investimento em infraestruturas para um trilião de dólares (cerca de 907 biliões de euros) ao longo dos próximos 10 anos através de parcerias público-privadas e fontes privadas, estimuladas por reduções fiscais. Trump pretende requalificar o que existe, não deixando fazer novo enquanto o velho for reutilizável. O “Discurso de Gettysburg” - nome do famoso discurso de Abraham Lincoln de 1863 para unir um país dividido pela Guerra Civil – como que cessou nas fronteiras do país, deixando-nos sem detalhes sobre a sua política externa. Os seus críticos sobrevalorizaram apenas a construção de um muro no limite com o vizinho México que, curiosamente, existe há décadas em grande parte da fronteira.

Sem pretender fazer a apologia da teoria da conspiração, mas numa era em que é inquestionável que estamos cada vez mais entusiasmados em ouvir e ler – tão-só – o que pretendemos (o que os ‘profetas do nosso Ocidente’ anunciam nos meios de comunicação que mais gostamos), convém sermos assertivos e tentarmos compreender o Mundo a cada momento, sem fazermos comparações sobre o que não é análogo. O programa eleitoral de Donald Trump menciona claramente a deportação de imigrantes ilegais, principalmente os que enfrentam problemas com a justiça ou se encontram a cumprir penas de prisão. Mas este facto é apenas a continuidade do processo reeditado por Barak Obama. Neste último mandato, o presidente Norte-americano cessante deportou mais de 2,5 milhões de imigrantes ilegais. E a Ocidente não se ouviu um único comentário da classe política, nem mesmo dos dirigentes da União Europeia.

Naturalmente, que as preocupações de alguns dirigentes europeus, prendem-se com a posição de Trump relativamente à NATO: entende que os Estados Unidos não devem continuar a pagar 80% das despesas da Organização do Tratado do Atlântico Norte que inclui outros 27 Estados-membros. Em 67 anos (tantos quantos têm a existência da organização), os Estados Unidos gastaram, todos os anos, centenas de milhões de dólares para garantir a segurança europeia, particularmente a da República Federal da Alemanha e da Alemanha reunificada, desde 3 de Outubro de 1990, enquanto os alemães mantém a recusa em honrar os compromissos em contribuir com um mínimo de 2% do PIB em gastos para a defesa.

Se é verdade que a política externa de Barack Obama deixou a Europa mais vulnerável, a maioria dos governantes europeus suportaram esse modelo por força do Presidente Norte-americano ser um “globalista” convicto o que terá favorecido uma espécie de recriação dos Estados Unidos à imagem europeia. Pelo contrário, Trump é mais nacionalista e não esconde a pretensão em restaurar os Estados Unidos numa imagem americana, mais tradicionalista, adversa ao actual ideal europeu. É uma justa aspiração da sociedade estado-unidense que se antecipa a uma percepção indiscutível: a globalização falhou nos maiores propósitos. Só os “globalistas” europeus ainda não perceberam isso. Verifica-se um enorme desespero, nos discursos dos responsáveis pela União Europeia em salvar a organização, cada vez mais distante dos cidadãos, que se impõe e substitui à soberania dos Estados-membros, têm uma Comissão que não é eleita por sufrágio universal, decide unilateralmente, não é transparente, chegando ao ponto de não prestar contas.

Os formadores de opinião europeus, para quem Donald Trump é uma ameaça para a ordem mundial, esquecem que o Mundo se encontra significativamente mais caótico e instável do que, em Janeiro de 2009, quando Barack Obama tomou posse pela primeira vez. A censura da maioria dos responsáveis europeus relativamente à eleição de Trump, revela um antiamericanismo preocupante, bem como o desrespeito por uma eleição democrática dum candidato que teve a urbanidade de anunciar o seu compromisso em restabelecer o poder económico e militar norte-americano. Foi seguramente esta convicção que lhe deu a vitória nas eleições, em estados pouco prováveis, contra uma candidata demasiado europeísta na geoestratégia internacional, displicente relativamente ao médio-Oriente e num anti-putinismo desmedido. Pelo contrário, Trump satisfaz os americanos nesta matéria: promete um acordo político e económico bilateral, com as devidas distâncias, mas sem hostilizações desnecessárias, num período de ascendência do império chinês, na Europa, no sudoeste asiático e na África Ocidental e do fracasso da globalização, com índices de pobreza inimagináveis.

Donald Trump não hesitou em afirmar à rede de televisão CBS que a sua eleição está directamente relacionada com a desilusão das pessoas relativamente aos políticos e às suas decisões nas questões do emprego e nas relações internacionais que envolvem a participação em guerras... “Gastámos seis biliões de dólares no Médio Oriente. Podíamos ter reconstruído o país com esse dinheiro, por duas vezes. E se olhar para as nossas estradas, as pontes, os túneis e os aeroportos, eles estão antiquados. A minha vitória assinala a rejeição dos americanos às prioridades tomadas pelo poder no país".

 

Comparações contraproducentes

As comparações com os anos 30 são absurdas e, no fundo, uma forma de banalizar o horror do totalitarismo”, escreveu Luís Neves, num artigo publicado em delitodeopiniao.blogs.sapo.pt.

O artigo é pertinente e merece a transcrição parcial:

Os números da Grande Depressão não têm semelhança com os da Grande Recessão de 2008. Passados oito anos desde o início do processo, o desemprego na América é agora de 4,9%; em 1938, era de quase 20%. Em todos os indicadores, as duas histórias são incomparáveis.

No plano político, nem se fala: na nossa realidade não há milhões de veteranos sobreviventes das trincheiras da I Guerra Mundial nem rancores de vencidos, não há nacionalismo histérico nem recuo drástico do comércio mundial. A destruição e morte de vários regimes democráticos nos anos 30 não tem explicação fácil, mas nessa época as máquinas de propaganda fascista e comunista prometiam futuros brilhantes que, hoje em dia, poderão no máximo convencer franjas lunáticas.

É caso para nos interrogarmos para que serve esta narrativa, ensaiada a propósito da vitória de Trump, de que vem aí um novo fascismo e se prepara uma perigosa vaga populista na Europa? Populismo, aliás, que nunca é definido, pois a palavra serve apenas para rótulo. Segundo parece, os líderes sentem que o chão lhes está a fugir debaixo dos pés, que o poderoso descontentamento das classes médias implica mudanças na governação e que eles não estão em condições de proporcionar essa mudança. O liberalismo falhou na economia e a esquerda ficou refém da cultura politicamente correcta dominante nas academias, nunca tendo compreendido as reservas que o seu eleitorado de trabalhadores colocava às políticas de imigração ilimitada.

Vem aí uma vaga de votações em partidos conservadores e nacionalistas, também de populistas que vieram da extrema-direita, mas que não são iguais aos primeiros, como nos querem fazer crer. Façam o favor de dar alguma atenção aos discursos de Theresa May.

O processo de erosão dos partidos tradicionais do centro já se verifica há vários anos, deverá agora acelerar, pois a fórmula de vitória de Trump está ao alcance de muitos grupos europeus.

Isto devia ser mais ou menos claro, mas ouvir o ministro português dos Negócios Estrangeiros dizer que os valores europeus não são compatíveis com deportações em massa só pode causar perplexidade. Onde estavam os protestos da diplomacia portuguesa em relação às deportações de Obama? E que dizer do acordo entre UE e Turquia, que prevê a devolução de refugiados à procedência? O ministro discordou?

 

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