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Sérgio Cipriano - Os psitacídeos sempre foram a sua grande paixão!

Sérgio Cipriano - Os psitacídeos sempre foram a sua grande paixão!

Para além das “facetas” que todos lhe conhecem, como a política, onde foi vereador do município de Torres Vedras, à empresarial, onde é sócio de uma das mais conceituadas empresas de instalações elétricas da região, tem uma outra paixão, talvez menos conhecida, mas que lhe enche “a alma”: os psitacideos, ou mais propriamente a criação de piriquitos de que cuida quase como se de família se tratasse, tal a paixão que tem por estas aves.
Foi sobre a sua criação que o convidámos a conversar connosco e ainda conseguiu surpreender-nos.

Revista Festa - O que são propriamente os psitacídeos?
Sérgio Cipriano - Antes do mais quero agradecer o convite para falar de um “hobbie” que já tem quase a minha idade.
Psitacídeos é uma classe de aves, vulgarmente conhecidos como piriquitos, papagaios, araras, catatuas, ou destas famílias. Pássaros de bico curvo, com dois dedos para a frente e dois para trás, que se alimentam de sementes e frutos. São espécies que existem um pouco por todo o mundo, nos seus habitats naturais, embora na Europa só existam importadas de outros continentes.



Festa - Com que idade começou esta paixão?
Sérgio Cipriano - Inicialmente o grande impulsionador deste “gosto” foi o meu irmão Paulo, que desde os oito anos se dedicou, também, às aves. Eu era quatro anos mais novo mas também ganhei uma certa “adoração” pelas aves, que crio desde os cinco ou seis anos de idade. Primeiro de uma forma mais rudimentar, como é evidente, mas que sempre me deu muito prazer e as coisas foram evoluindo, tendo neste momento já uns quantos “passarecos”.

Festa - O Sérgio político, por onde tem andado. Que tem feito. Agora tem mais tempo?
Sérgio Cipriano - É diferente. Depois de quatro anos como vereador, onde tinha imenso tempo ocupado com a preparação das reuniões e a defesa da melhoria de vida das populações que representava, agora fiquei um pouco menos sobrecarregado. Mas continuo a militar no meu partido, onde tenho as minhas posições e publicamente de vez em quando também tenho algumas intervenções, mas é incomparavelmente diferente.
Uma coisa é certa, o dia tem vinte e quatro horas e o tempo é limitado. Não sendo necessário utiliza-lo para umas coisas acaba por sobrar para fazer outras, com os piriquitos, as instalações e o desporto a sair beneficiados, pelo menos nesta fase.

Festa - O desporto também o ajudou muito enquanto vereador, pelos “passeios” de bicicleta que dava por ruas, vielas e caminhos do concelho?
Sérgio Cipriano - Sim, faço atletismo e triatlo, mais como forma de superação própria que como competição com os outros. Uma das modalidades do triatlo é o ciclismo e é verdade que fazia muitos quilómetros de bicicleta pelo concelho onde percebia muitos dos problemas que existiam, e alguns continuam a existir ainda hoje. Depois, levava-os às reuniões de Câmara e muitos tiveram solução.

Festa - Voltando aos “psitacídeos”… com a idade que tinha o gosto pelo pássaros não deve ter surgido por mero acaso. Como foi?
Sérgio Cipriano - Moramos na aldeia e aldeia tem campo. O campo tem aves e isso sempre nos aproximou. Em pequenos, eu e o meu irmão, lá conseguimos arranjar uns piriquitos e foi por aí que tudo começou, porque as cores deles sempre nos fascinaram. Com o passar do tempo fomos aprendendo como é que as cores surgem, porque aparecem, e é isso a que hoje nos dedicamos, a criar pássaros de que gostamos e achamos fantásticos.

Festa - Como combinam as cores. É coisa fácil?
Sérgio Cipriano - No fundo da mesma forma que, naturalmente, se cruzam as pessoas, ou seja, em termos de genética é muito semelhante. Procuramos cruzar animais com características diferentes, que escolhemos previamente, aguardando que daí resulte uma terceira caraterística nas aves que desse cruzamento venham a nascer. Não resulta sempre assim mas normalmente é o que acontece.

Festa - Qualquer pessoa pode ser criador de aves?
Sérgio Cipriano - Desde que goste e tenha alguma sensibilidade pelas aves, sim, não há grande problema. Claro que têm que procurar fazer os registos necessários no ICNF mas, respeitando as regras que são impostas, não existe grande dificuldade. É mais uma questão de paixão, porque as aves exigem-nos muita dedicação e carinho.

Festa - Claro que não podem ficar com todas as aves que vão nascendo, como certamente gostariam. Este tipo de aves é fácil de vender?
Sérgio Cipriano - Sim, há um nicho que as procura e para quem são muito apreciadas, em especial criadores e não tanto as lojas de animais, até pelos valores que este tipo de aves atinge. O nosso tipo de aves já tem um valor que não se torna muito apetecível para quem procura um pássaro para ter em casa. Para esse tipo de espaços existem normalmente outro género de aves com valores muito mais simpáticos e acessíveis que desempenham muito bem o papel que lhes é adequado.
No nosso caso também compramos algumas mas é sempre maior o número que vendemos que o que compramos, claro.

Festa - Neste momento, quantas aves têm no vosso espaço de criação?
Sérgio Cipriano - Essa é sempre uma pergunta complexa, porque o número de aves é bastante variável. Neste momento temos cerca de quarenta e cinco viveiros de criação, onde cada um tem um casal, depois temos gaiolas maiores próprias para as aves mais novas.

Festa - Estas aves reproduzem-se na época natural das outras aves portuguesas ou não?
Sérgio Cipriano - Basicamente os ciclos reprodutivos são semelhantes, embora algumas aves tenham um tempo de reprodução maior que outras. No nosso caso, as aves começam o ciclo de reprodução em finais de janeiro ou início de fevereiro, que acaba por coincidir com a altura também mais favorável para os animais nativos, ou seja, quando começa a haver uma maior abundância de alimentos. Os pássaros naturalmente têm esse sentido de sobrevivência e iniciam o ciclo de reprodução por essa altura.

Festa - Quantas aves novas nascem em cada estação reprodutiva?
Sérgio Cipriano - No nosso caso, duas a três aves por casal é uma média razoável. Temos casais que criam mais que isso mas também existem alguns que não têm qualquer filhote o que faz com que, nos nossos viveiros, se reproduzam entre uma a duas centenas de piriquitos novos por ano.

Festa - Existem Associações do sector que vos juntam e apoiam?
Sérgio Cipriano - Em Portugal existem duas Federações nacionais mas depois existe mais uma série de Associações locais ou regionais que se associam a uma ou outra delas. Estas organizações têm o grande objetivo de organizar exposições e mostras mas, no nosso caso, esse não é o objetivo principal e raramente levamos as nossas aves a um certame desse género, até porque as nossas aves estão habituadas a viver em espaços de três a quatro metros e as exposições obrigam a fecha-las por diversos dias em gaiolas de trinta ou quarenta centímetros o que causa algum stress, pelo menos nas nossas aves. Por isso o evitamos.

Festa - Disse que as vossas aves não se encontram normalmente à venda em lojas de animais pelos valores que atingem. Para além do valor sentimental, claro, quanto pode valer uma ave destas?
Sérgio Cipriano - Alguma aves valem números com muito zeros… porque quem as compra dá esse valor por elas e é isso que regula os valores que algumas atingem. Alguns psitacídeos, não propriamente os nossos, podem chegar mesmo a algumas centenas de milhar de euros.
Mas não é por isso que as criamos. Temos que as criar por paixão e esse gosto é que nos faz passar horas, dias e anos, de volta delas, porque para além de necessitarem de ser alimentadas este tipo de aves também precisa de muita atenção.

Festa - Qual é a alimentação destes animais?
Sérgio Cipriano - Depende da época do ano, mas a base é uma mistura própria de sementes secas. No nosso caso, habitualmente adicionamos a essa mistura alpista e aveia, para além de frutas e vegetais frescos que funcionam como um verdadeiro estímulo.
Para além disso, a alimentação deve ser menos rica na altura em que estamos, a época do defeso, aumentando o valor e a quantidade da mesma na época da reprodução para elas sentirem que têm melhores condições para criar, para lhes dar esse estímulo adicional e normalmente funciona.

Festa - No vosso espaço existe uma enormidade de câmaras de vídeo. Por uma questão de segurança ou por alguma outra razão em especial?
Sérgio Cipriano - Embora a segurança seja importante e essa é uma das minhas áreas profissionais, mas não é a razão principal das referidas câmaras. Trata-se de uma aposta no controlo das próprias aves, com a maior parte dentro dos próprios ninhos, o que permite ver o que se está a passar no momento ou as gravações do que se passou em momentos anteriores, para perceber se estão a chocar, se os filhotes nasceram ou não, e por aí... para ser possível reagir às necessidades das próprias aves e geri-las ou apoia-las da melhor forma possível.

Festa - Dá prazer estar a ver as aves no vídeo em tempo real?
Sérgio Cipriano - Claro que sim.
Dá tanto prazer que por vezes até dá para adormecer com a calma relaxante que as aves conseguem transmitir. É fantástico.


Festa - Há muita gente a dedicar-se às aves no nosso país?
Sérgio Cipriano - Claro que sim, muita mesmo.
Há o “pessoal” dos pombos, que são imensos, com algumas aves a valer valores completamente surreais. Depois existe quem se dedique aos canários e aves exóticas. Há quem se dedique, como no nosso caso, aos psitacídeos. Há ainda quem se dedique às aves de rapina, outra área também com um número significativo de criadores.

Festa - De vez em quando também vão ao estrangeiro. Qual a razão?
Sérgio Cipriano - No nosso caso em termos de feiras vamos basicamente a uma, na Holanda, duas vezes por ano.
São mais de dois mil e quinhentos quilómetros que temos de fazer de carro e não é fácil, mas costumamos ter lá o nosso stand onde vendemos algumas aves e aproveitamos também para visitar alguns criadores e perceber como estão a trabalhar, de forma a poder aprender e evoluir.
Mas os psitacídeos levam-nos a outras partes do mundo, como por exemplo África do Sul, Dubai, e a outros países onde aprendemos e compramos algumas aves que achamos importantes para nós. Acabamos por considerar isso como autênticas férias que de outra forma seriam difíceis de “tirar”.

Festa - Quais os conselhos que daria a quem está a iniciar-se agora nesta área?
Sérgio Cipriano - A primeira idéia que deixo é uma resposta a uma questão que me colocam muitas vezes: pode alguém viver só disto? Claro que pode e há muita gente a fazê-lo, mas o principal é que usem esta paixão como “hobbie”, porque se não tiverem um enorme gosto, um verdadeiro amor pelas aves é difícil gostar-se.
A partir daí é escolherem o que mais os possa atrair e não apostar numa diversidade enorme de espécies, porque especializando numa espécie é mais fácil solucionar os problemas que sempre surgem, com aves a não querer chocar, a deixar os recém nascidos para trás, ou outros contratempos, que são fáceis de resolver se tivermos um casal “ao lado” que sirva de apoio para procedermos à troca nessas circunstâncias sem que os animais, ou ovos, sejam rejeitados.
O maior erro mesmo a não cometer é comprar um casal de uma espécie por o achar bonito, depois acha-se bonito outro de outra espécie e compra-se esse outro e assim por diante, até que surge um qualquer contratempo e, por falta de opções, começa a esmorecer o entusiasmo acabando por se perder o gosto que se tinha inicialmente pelas aves.
Por isso, o maior conselho que posso deixar é que, se estão a começar e têm paixão pelas aves, apontem no caminho da especialização num género em particular.

Festa - Algém que goste de ver aves é possível visitar este tipo de espaços?
Sérgio Cipriano - Sim, claro que é possível.
Para além dos zoológicos e de alguns parques biológicos que existem, podem ainda, através do Facebook ou outras plataformas desse género, contactar um criador e pedir para visitar o seu espaço. A nós isso tem acontecido e acedemos sempre receber quem demonstre querer fazê-lo. Não representa qualquer problema, é antes um enorme prazer para nós também.

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