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Uma visita pelas Freguesias de Carvoeira e Carmões com o presidente Nuno Pinto como "Cicerone"

Uma visita pelas Freguesias de Carvoeira e Carmões com o presidente Nuno Pinto como "Cicerone"

Visitámos aquela que já foi uma das zonas mais prósperas do concelho de Torres Vedras. Referimo-nos a Carvoeira e Carmões, as duas antigas freguesias, que com a reorganização administrativa de 2012/13 se viram agregadas e deram lugar à União de Freguesias atual.
Ao longo dos tempos toda esta região, que faz fronteira com os concelhos de Sobral de Monte Agraço e também Alenquer, tem uma variedade enorme de motivos de interesse a justificar uma visita.
A principal atividade económica destas freguesias relaciona-se com a agricultura, muito em particular com o vinho e a vinha, que são predominantes.
Embora nas últimas décadas esta região tenha vindo a perder alguma importância no concelho de Torres Vedras, atualmente verifica-se alguma recuperação que pode augurar algo de bom para estas terras e suas gentes.
Durante um dia, na companhia de Nuno Pinto - presidente das Freguesias, visitámos cantos e recantos desta região com perto de 21 km2 e 2500 habitantes, ficando agradavelmente surpreendidos com o que nos foi dado a ver.


Festa - A Carvoeira tem uma zona industrial com alguma dimensão, o que raramente se encontra em freguesias rurais. Esse facto é importante para a freguesia?
Nuno Pinto - Com a instalação das empresas, algumas delas de elevada importância regional, nacional e até internacional, este é um polo de desenvolvimento para a freguesia, pois traz-nos emprego, economia, e uma dinâmica que é especialmente importante. Mas não podemos esquecer que para além do polo industrial temos ainda o maior distribuidor de alhos e cebolas, instalado na freguesia, temos as centrais fruteiras, as adegas, as vinhas, e uma coisa que pouca gente sabe: quase 75% dos bacelos e ‘pé de mãe’ que saem para as vinhas que são plantadas em Portugal são produzidos aqui, na nossa freguesia. Mas temos muitas outras empresas e atividades na nossa freguesia.

Festa - Com a extensão territorial que a União das Freguesias passou a ter e com a interioridade que se verifica, os transportes são um problema para os seus habitantes?
Nuno Pinto - É uma realidade que sabemos existir e que vamos gradualmente tentando solucionar. Tendo em conta o custo do transporte público por pessoa transportada e percebendo que as empresas transportadoras têm que ter lucro na sua atividade, para se ter transportes neste tipo de freguesias tem que ser o município a suportar parcialmente os custos que permitam servir estas populações minimamente.
Temos vindo a tentar colmatar esta fragilidade real do território criando zonas de transporte de ligação, ou seja, quando as pessoas não necessitam de ir a Torres Vedras e só precisam de se deslocar dentro da freguesia. Estamos a estudar, com os advogados, a possibilidade legal de passar a utilizar alguns meios que diversas Associações dispõem e, eventualmente a pedido, poder passar a servir toda a população. Se necessitarem de ir à cidade, poder deixar-se essas pessoas nos pontos onde os transportes públicos sejam mais satisfatórios, como a Carvoeira ou Dois Portos, por exemplo. Mas é uma situação que embora esteja ainda em estudo conta com o nosso total empenhamento.
Para além disso, temos ainda um veículo que foi conseguido através do Orçamento Participativo, em conjunto com outras freguesias, que poderá igualmente vir a servir esse intento. No fundo o que estamos a estudar e procuraremos implementar são alguns circuitos, atualmente deficitários, em que seja mais previsível em horários específicos, ou a pedido se for possível, as pessoas poderem ter transporte na freguesia.
Ainda assim, tenho que referir que, atualmente já transportamos as crianças para as escolas gratuitamente, também o fazemos com a população sénior para as atividades ‘séniores’, devido à nossa disparidade, mas é evidente que precisamos de mais, mais conforto e mais mobilidade para toda a população.

Festa - Outro tema muito em foco são os passeios nas ruas e estradas das freguesias. Ultimamente vêm sendo construídos imensos passeios um pouco por todo o concelho. Existe uma razão para essa opção?
Nuno Pinto - Existe especialmente por uma razão de segurança das pessoas. Estamos quase sempre a falar de passeios de ligação entre lugares próximos onde as pessoas necessitam de se deslocar e onde normalmente o faziam pelo meio da estrada, partilhando esta com os veículos que aí circulam. Trata-se mesmo de uma questão de comodidade e segurança para as populações.
Agora também se trata de opções sobre onde investir o orçamento que temos disponível na freguesia e, pelo menos na nossa, as decisões são tomadas depois de todos opinarem, de se passar a uma fase em que democraticamente na Junta se vota e a maioria prevalece, avançando-se para o que foi decidido.  As opções não são tomadas pela ideia ou vontade do Nuno Pinto, mas sim coletivamente.
Atendendo a essas opções eventualmente até temos que abdicar de alguns passeios para poder investir o dinheiro disponível em outras coisas igualmente importantes. Veja por exemplo o caso dos transportes para os ‘séniores’, que tem um valor anual de cerca de vinte mil euros, mas que permite a esta nossa população ter atividades que de outra forma não seria possível e, muito em especial, em muitos casos permite até retirar pessoas a uma solidão e isolamento e encontrar-lhes formas de convívio que de outra forma não lhes seria possível. São opções que tomamos, temos é que tentar ter algum equilíbrio custo/benefício, porque a nossa verba não é infinita e temos que a aplicar preferencialmente bem.

Festa - Há uns quarenta/cinquenta anos esta era vista como a zona “rica” do concelho. Gradualmente a situação veio a mudar e “da linha do comboio para cá” tudo se alterou passando esta a ser a região menos privilegiada e com menor oferta, embora pareça que as coisas ultimamente estão a melhorar.
Atualmente, o que pode levar alguém a querer vir residir para aqui, para Carvoeira e Carmões?
Nuno Pinto - Acho que esta região tem tudo para se vir morar para cá. O maior problema é as pessoas não conhecerem o que de bom por aqui existe e, depois, como o sentido começou a ser mais as pessoas aproximarem-se do mar, da zona das praias, fica a ideia de que essa parte do concelho tem mais coisas e fica mais próximo de tudo. Não é bem assim, pois por aqui a oferta é muito interessante, a todos os níveis, e torna-se muito mais fácil e cómodo chegar-se à cidade deste lado do concelho, pois temos acessos muito razoáveis e menos trânsito.
Para além disso, o que pode levar as pessoas a querer optar por vir para cá prende-se com a qualidade de vida conseguida. As crianças aqui crescem de uma forma muito mais saudável, estamos a menos de dez minutos da Auto-Estrada, a menos de meia hora das praias e a meia hora de Lisboa. Para além disso temos uma vida mais barata, diversas coisas gratuitas, em especial para os filhos, e uma habitação que ainda se encontra a preços mais convidativos que “da linha do comboio para lá”, embora a tendência, com a oferta/procura atual, seja ficar equiparada em poucos anos.

Festa - Há procura por habitação nesta região do concelho?
Nuno Pinto - Há procura e isso tem-se notado cada vez mais. Fizemos um levantamento fiável da situação na nossa freguesia… e concluímos que mais de setecentas e cinquenta habitações, garagens ou adegas, estavam degradadas ou não habitadas, embora tenha existido um crescimento de casas habitadas na freguesia, começando agora a ter alguns outros problemas com estacionamento, mesmo em lugares mais pequenos, que gradualmente vamos tentando solucionar. Posso portanto dizer que ainda não temos falta de habitação mas tudo aponta para, cada vez mais pessoas optarem por residir aqui.

Festa - Esta é uma região de certa forma envelhecida?
Nuno Pinto - É uma realidade, mas outra também é o aumento no número de crianças na freguesia, em especial nos último anos.
Já temos o Jardim de Infância de São Domingos cheio, regressámos a três salas de aula na Carvoeira onde o Jardim de Infância também está no limite, embora ainda possa abrir outra sala se necessário, pois tem-se verificado um aumento de crianças que nos levou a ter que gerir as mesmas colocando-as consoante a idade nos dois polos principais da União de Freguesias, transportando-as diariamente, desde que necessário, sempre de forma completamente gratuita, sem qualquer encargo para os pais.

Festa - Temos gradualmente assistido à construção de centros educativos por todo o concelho.
Um novo centro faz falta também aqui ou essa não é uma prioridade neste momento?
Nuno Pinto - A nossa região teve o primeiro desses centros educativos a ser construído no concelho, que reabilitámos já neste mandato, há cerca de cinco anos, pelo que se pode dizer que está conservado e a servir as nossas crianças e educadores, tendo ainda capacidade para receber mais algumas crianças se tal se vier a mostrar necessário.

Festa - Visitámos a freguesia e ficámos agradavelmente surpreendidos com o que fomos vendo, até nos lugares de menor dimensão. Mas uma coisa chamou-nos particularmente a aten-ção: a “loja” que têm com produtos não usados por algumas pessoas mas com interesse para outras pessoas: “Roupeiro das Uvas”, penso. Que projeto é esse e para que serve?
Nuno Pinto - É um projeto conjunto com a Associação de Socorros da Carvoeira, em que o objetivo é esse mesmo, permitir que as pessoas entreguem o que não necessitam, ou não usam, algumas das coisas novas, e nós nesse espaço limpamos, esterilizamos, acondicionamos e selecionamos o que entendemos que seja bom para voltar a ser usado e só depois colocamos ao dispor para ser levantado por parte de quem necessite.
Para alguém adquirir esses produtos, faz uma troca e recebe “bagos de uva”, um valor simbólico, que a Junta disponibiliza, sendo depois transformados em valores que são entregues na Associação que os vai utilizar para adquirir produtos e refeições para a população, especialmente a mais necessitada ou com família mais numerosa, através de avaliação da responsável social da própria Associação. Também, a essa população, são atribuídos “bagos de uva” que permitem depois adquirir na “loja” produtos que necessitem, sem ter que pagar pelos mesmos. Em termos práticos é como se fosse um subsídio social, mas que permite à pessoas escolher o que mais gostem e necessitem, da mesma forma que qualquer outra pessoa que não tenha tanta necessidade e possa ter trocado a título de oferta um determinado valor por “bagos de uva”. Não existe qualquer tipo de discriminação ou constrangimento.

Festa - Outra coisa que chamou a atenção, foi o pavilhão polidesportivo de Carmões, que de um momento para o outro parece ter ganho vida e atualmente está cheio de jovens. A que se deve todas essas atividades?
Nuno Pinto - O pavilhão sempre teve atividade, até porque funciona como apoio à própria escola, que fica ao lado. Depois, embora o espaço seja da Junta, foi estabelecido um protocolo com uma Associação que nasceu no seio da Assembleia de Freguesia, integrando todas as forças políticas da mesma - a Unicarmões, que colocou o mesmo a funcionar bastante bem, fora do horário escolar, e o pode ainda disponibilizar a qualquer pessoa, ou organização, que o requisite, para os mais diversificados tipos de eventos.

Festa - O espaço da Serra de São Julião, que antes conhecíamos pelas eólicas e pela chegada de uma etapa do Troféu Joaquim Agostinho,  também parece que ganhou nova vida. Quer explicar o que passou a existir naquela enorme área?
Nuno Pinto - Desde sempre achamos que aqueles 52ha são um espaço público com enorme potencialidade, perto de tudo e com paisagens fabulosas para onde começámos a estudar uma série de ideias.
Denominámo-lo de ‘Eco Parque’, pois o que quer que por lá se faça deverá ter preferencialmente a ver com sustentabilidade. Embora tenhamos criado uma pista de moto-cross quisemos desde logo reflorestar esse espaço e enquadrá-lo por vegetação que se vai desenvolvendo ao longo do tempo, tornando-o num espaço de desporto, entretenimento e bem-estar, enquadrado na natureza. Depois, criámos um parque canino, com condições para treino de cães, um parque de arborismo aventura, destinado, em especial aos mais jovens, sanitários, um parque de merendas para poder ser desfrutado por grupos e famílias, um parque de caravanas, com as condições necessárias à paragem e reabastecimento das mesmas, um baloiço no alto da serra, de onde se desfruta de uma paisagem ‘até ao mar’, uma ‘charca’ de água ainda não terminada, em especial na retenção, que irá dar a frescura agradável que um espelho de água sempre oferece. Com um agrupamento de escolas estamos a tentar elaborar o projeto “As crianças na floresta” para trazer as crianças até ao parque e já estabelecemos um outro protocolo com a Torres Extreme para criar eventos de enduro mas com bicicletas eléctricas, ali na serra.
Ou seja, nesta serra de onde se vê o mar para um dos lados e o rio Tejo para outro, estamos a criar gradualmente condições para que as pessoas, quer as da freguesia quer as que nos visitem, possam desfrutar e usufruir de condições excecionais para passar tempo de qualidade saudável, sozinhas, em família ou em grupo.

Festa - Um dos grandes problemas da região de Lisboa e Vale do Tejo prende-se com a saúde, mais em particular com a falta de médicos de família. Qual é o estado da saúde em Carvoeira e Carmões?
Nuno Pinto - Em Carmões esse não é um grande problema atualmente, pois existe capacidade de resposta e ainda é possível atender lá algumas pessoas da Carvoeira que lá se inscreveram. Quanto ao Centro de Saúde da Carvoeira, que nos serve a nós e a Matacães, aí temos a falta de médico de família…

Festa - Para que serve o Centro de Saúde se não tem qualquer médico?
Nuno Pinto - Tem sido uma luta, que vamos continuar sem baixar os braços, reunindo com ‘quem de direito’, tomando todas as iniciativas que nos são possíveis, sabendo das carências que existem em todo o país, mas fazendo com que as entidades sintam que a população rural, especialmente a mais idosa, está desprotegida e não descansaremos enquanto não conseguirmos que seja colocado médico/s de família no Centro.

Festa - Depois de visitarmos a freguesia, localidades maiores e outras mais isoladas, depois de vermos o que existe e o que se passa por aqui, se o Nuno Pinto não fosse presidente da Junta, que poderia achar que ainda falta aqui, em Carvoeira e Carmões?
Nuno Pinto - Costumo dizer, mesmo estando na Junta, que um autarca será muito mau se estiver satisfeito com aquilo que existe no momento, não tendo a ambição de querer mais para a população que representa.
Sou um sonhador por natureza, embora realista, e gosto de trabalhar e envolver pessoas para que em conjunto consigamos fazer acontecer coisas, projetos, novas realidades. Nesse sentido, não esquecendo o básico que tem que ser feito no dia-a-dia, temos ainda algumas ambições e projetos, como o Eco Parque, que embora agradável ainda está a ‘anos luz’ do nosso objetivo final, já estamos empenhados na construção do Parque Verde de Carmões - Sérgio Simões, que esperamos se consiga tornar numa zona de lazer importante para a população, estamos empenhados na criação de um espaço de Enoturismo que possa ser referência em toda esta nossa região de vinhas e de vinho, ligando-o a todos os projetos nessa área que vão sendo desenvolvidos pelo concelho, e não queremos de forma alguma estar isolados, queremos integrar todos os projetos desenvolvidos pelo município que se enquadrem aqui, na freguesia, trabalhando em rede, como neste momento já fazemos com o Geo Parque Oeste. Mas temos imensas outras ideias, que sempre que se verifiquem ser possíveis estaremos prontos a abraça-las e avançar.

Festa - Esta região do concelho ‘para cá da linha do comboio’ é pouco falada, pouco promovida. Que poderia ser feito para isso melhorar?
Nuno Pinto - Claro que falar-se e ser-se falado é bom, se for pelos melhores motivos, pois chama a atenção das entidades para a região. Não para se conseguir um crescimento rápido e desordenado mas para se apontar para um crescimento sustentado, mesmo que mais lento, onde seja possível adequar estruturas a uma eventual procura, satisfazendo positivamente que nos procure. Também temos que valorizar aquilo que temos, aquilo que é nosso, uma identidade própria que temos que saber mostrar cativando positivamente quem nos visita ou nos ‘encontra’ através dos mais diversos meios, para que aqui queiram investir, viver ou incluir nos roteiros das suas visitas.


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